quinta-feira, 16 de julho de 2009

O Saldo da Mudança de Poder

Como vimos, todo o período de 1953 a 1960, na área da defesa, foi dominado pelo chamado "New Look", o esforço republicano para reduzir o custo com defesa mudando a estratégia de "contenção" para "retaliação em massa". Isto resultou em uma redução do orçamento americano em defesa de uma média de 43 bilhões de dólares por ano, ao longo dos últimos quatro orçamentos Truman (1949-1953) para uma média de 37.4 bilhões nos 6 orçamentos Eisenhower (1954-1960). Neste processo o contingente militar americano foi reduzido de 3,7 milhões de homens para 500 mil durante os seis anos de Janeiro de 1953 a Janeiro de 1959. A ajuda a economias estrangeiras foi redudiza de forma expressiva.

Desta maneira, o esforço para deter a agressão soviética foi baseado quase completamente na ameaça de um ataque nuclear americano em território soviético, a ser realizado por bombardeiros, e menos na possibilidade americana de enfrentar forças soviéticas no solo ou em conquistar aliados para ajuda econômica ou algum outro tipo de auxílio. Dulles, que enxergava o mundo em preto-e-branco, recusou-se a reconhecer o direito de qualquer um de ser neutro e tentou forçar todos os Estados a ficar do lado americano na Guerra Fria ou ser condenado à escuridão.

Tendo assim dividido o mundo em dois blocos, Dulles tentou criar entre eles um
circuito contínuo de barreiras burocráticas ao longo das fronteiras terrestres do bloco soviético desde o Mar Báltico, na Europa e na Ásia, até o Extremo Oriente. Os carros-chefe das barreiras foram Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Europa (1949), a Organização do Tratado Central também conhecido como pacto de Baghdad (1955) no Oriente Médio (CENTRO), e Organização do tratado do Sudeste Asiático (SEATO) no Extremo Oriente (1954). Em teoria, as barreiras burocráticas
tornaram-se contínuas devido a presença da Turquia tanto na OTAN quando na CENTRO e do Paquistão tanto na CENTRO quanto na SEATO.

Dulles pouco se importava com a força militar, prosperidade econômica, política ou
democrática dos Estados que faziam parte do anel de tratados ao redor do bloco soviético, uma vez que sua função principal era a de formar uma barreira burocrática de forma que qualquer movimentação para fora da Rússia ou de seus países satélites quebraria os tratados e dispararia o gatilho para que houvesse uma retaliação com poder nuclear da América sobre a pátria soviética. Teoricamente, esta política estratégica significava que qualquer movimentação da União Soviética ou de um dos seus Estados satélites, fosse em selva remota ou em qualquer topo árido de montanha
da Ásia Central, poderiam levar a guerra nuclear, iniciada pelos Estados Unidos, que iria destruir totalmente a civilização Européia como a conhecemos. Pois, até 1960, a capacidade de qualquer das superpotências de atacar diretamente a outra a partir de seu próprio territrório era muito limitada e, consequentemente, as duas Superpotências teriam que realizar ataques em ou a partir de bases na Europa ou no Extremo Oriente.

Esta mudança, que aconteceu no período de 1956-1962, é de grande importância, já que significava que a União Soviética e os Estados Unidos se tornaram capazes de atacar diretamente um ao outro sem terem que envolver imediatamente terceiros em suas disputas. Do ponto de vista bélico representava, do lado americano, três mudanças: (1), a mudança de aviões bombardeiros tripulados de longo alcance como o B-47 para os de alcance intercontinental B-52 e B-58; (2) a mudança de mísseis de alcance médio (IRBM), tais como Thor ou Júpiter, que tinham ficar em bases na Turquia, Itália ou Inglaterra, a fim de chegar à União Soviética, para mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), tais como o Minuteman ou Atlas, que poderiam atingir a União Soviética com lançamentos realizados de locais nos Estados Unidos, e (3) o advento, por volta de 1960, dos submarinos de propulsão nuclear Polaris, armados com dezesseis mísseis nucleares que poderiam atingir a União Soviética a partir de posições submersas nos mares ao redor do terreno Eurasiático.

Esta capacidade americana de atacar, a partir de seu território, a pátria Soviética não foi concretizada tão rápida ou tão completamente pela Rússia, mesmo no momento do impasse nuclear em 1963. Como resultado, a União Soviética poderia atingir os Estados Unidos somente atacando suas bases ou seus aliados na OTAN ou no Extremo Oriente. Inicialmente, na década de 1950, um contra-ataque Soviético teria que ser realizado por solo com forças invasoras ao oeste em toda a Europa Central, mas até o final dos anos 1950, como o poder de ataque foi reforçado pela aquisição de aviões bombardeiros como o Tu-16 e de misséis IRBM, este contra-ataque soviético teria resultado na retaliação em massa dos Estados Unidos e teria resultado na destruição nuclear e poluição radioativa em grande parte da Europa. A mudança gradual do poder de retaliação americano de alcance intermediário para intercontinental (em 1962) reduziu a pressão soviética sobre a Europa, reduzindo a importância de bases americanas localizadas em território Europeu. Isto teve muitas implicações significativas para todas as nações da Europa, tanto comunistas quanto ocidentais.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O Crescimento do Impasse Nuclear

A década de 1953-1963 foi a mais crítica da história moderna. A capacidade humana de passar por ela com sucesso deve-se a sua sorte e um pouco de bom senso. O fato de ter evitado uma guerra nuclear e ter conseguido uma extraordinária explosão de prosperidade econômica nas nações industriais avançadas durante essa década foram compensadas por um crescimento contínuo na grave desorganização social e um crescimento ainda mais acentuado nas confusões ideológicas. No entanto, o homem sobreviveu e 1963 foi o marco do início de uma nova era baseada, em grande parte, na flexibilização da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética e também nas oportunidades de fazer algo sobre os problemas de atraso social e intelectual causados pela combinação de políticas de abertura e prosperidade econômica.

A década como um todo pode ser dividida em duas partes, separadas por 1956. Os três primeiros anos foram marcados pela contínua "Corrida pela Bomba H", e abrange o período das explosões termonucleares no início de 1953 até a construção de uma bomba de hidrogênio por fusão que podia ser jogada a partir de um avião em 1956. Os próximos sete anos, foram marcados pela corrida aos mísseis e atingiu seu ponto culminante e desenlace final no ano da crise dos mísseis de Cuba em outubro-novembro de 1962 até a morte do Presidente Kennedy, em Novembro de 1963.

Diretamente relacionada a esta divisão, baseada no desenvolvimento de armas, estava outra divisão da década em duas partes devido a uma mudança estratégica na política norte-americana. Aqui o ponto de divisão foi por volta de 1960 e é marcado pela mudança da estratégia de "retaliação maciça", associada à John Foster Dulles, para a estratégia de "dissuasão gradativa", associada à nova administração democrata do presidente Kennedy. A mudança em 1960, no entanto, foi apenas incidentalmente associada à eleições presidenciais desse ano e na subsequente mudança na administração na Casa Branca. A mudança real em 1960 foi provocada, como veremos, pela plena realização, nesse momento, da notória capacidade de ataque intercontinental termonuclear pelas duas grandes superpotências. Dessa forma o "equilíbrio do terror", alcançado em 1960 levou diretamente à crise dos mísseis de 1962 e ao impasse termonuclear de 1963. Estas conquistas levaram a grandes mudanças nas estruturas políticas e ideológicas de todas as áreas do mundo, mudanças que ainda estão em andamento.


Texto adaptado do livro Tragedy and Hope - A History of the World in Our Time de Carroll Quigley
Tradução: Joarley Oliveira